30 abril 2010

AMAS-ME?




Dorme-nos.
Com anjos.
No leito das minhas lágrimas
Cobre-te de pele
Aquece-te em mim
Encontra amor
Ateado na dor
De estar assim
Perdida nele,
Nos desarranjos.

Dorme-me.
Com asas.
Roubadas aos anjos da noite
Eleva-nos no ar
Faz-me alvorada
Diz-me a sorrir
Que não vais partir
Quero-me abraçada
Num perpétuo amar
Amas-me?



30 Abril 2010

28 abril 2010

TEAR DA VIDA


À ilharga. Dependurada.
Escorrendo-lhe dos cabelos
Enrolando-se-lhe em novelos
Moldando-se-lhe aos desesperos.

Às costas. Escancarada.
Vergados, os ombros magros
Apagados, os sorrisos rasgados
Ganhos, os olhos amargurados.

 
No fundo. Instalada.
Na dor nascida, criada
Nas entranhas aninhada
Tristeza suja, molhada.

Em si. Entranhada.
Pintada de negro no dia
Brilhante na noite de insónia
Triste nos pesadelos: vazia!

 
Na alma. Condenada.
Presa nos fios de nada
Teia invisível, tecida
No tear encravado da vida…



28 Abril 2010

27 abril 2010

Vivo o amor



vivo o amor como se o mundo tivesse acabado ontem e só o tivesse descoberto hoje para o viver amanhã....
quero-nos num quarto
sem paredes
num carro
sem rodas
num jardim
sem bancos
porque seremos
só eu e tu
o resto só matéria
substância e alma
só nós em nós
corpo e desejo
só tu e eu
num tempo sem fim
e quando o corpo
-corpo nosso feito um -
não mais puder
apesar de nos querer
num sempre infinito
ficaremos
largados
no
chão:
faremos amor
com a alma!


27 Abril 2010

26 abril 2010

LIBERDADE EM TURBILHÃO



Vês-me, de baixo para cima?

Aqui assim, a flutuar?

Não é minha a água lisa.

Onde me deixo a boiar.



Do cimo do Sol, vês-me?

Aqui assim, estendida?

Na areia quente, tens-me

Para sempre, oferecida.



A lua deixa-te espreitar?

Nua que estou, fico bela

Para me poderes sonhar

Enquanto brincas com ela….



Pede ao vento liberdade:

Ele que te faça vir

Num turbilhão de vontade

Fazer meu corpo sorrir….



27 Abril 2010

25 abril 2010

IMPERFEITO


imPERFEITO

que está feito

este amor

nesta vontade

imPERFEITO

neste leito

oferecido

à saudade

imPERFEITO

e no peito

jazem restos

de curiosidade

imPERFEITO

já desfeito

és só meu

na eternidade.



26 abril 2010

24 abril 2010

FEITIÇO


Teço-te na noite um feitiço
Feito sonho de enguiço
Quero-te em mim – largado
Quero-te para mim – alienado
Quero-te desnudo e vestido

Urdo no silêncio uma teia
Qual canto de uma sereia
Quero-te em mim – libertado
Quero-te para mim – capturado
Quero-te sentido e vivido.

Crio, na História um castelo
Onde me deixo – donzela
Onde capturo uma estrela
Com a sede só de querê-la
Quero-a nossa, neste desvelo.

Pinto, na cor, uma ausência
Um branco que a violenta
Um vazio que me inquieta
Um apelo que se agita
Quero-te nesta inocência.

Sonho beleza no pesadelo
Ignorando o medo da dor
Não imaginando ser melhor
Não sabendo viver-te sem amor.
Quero-te meu dono. E senhor.



24 Abril 2010

ATÉ AO FIM DO TEMPO


Pus a alma no deserto
Para me deixar dormir
Fiz do teu longe o meu perto
Enrolei em ligaduras o aperto
Colei com cola o incerto
Deixei-me ficar, querendo ir.



Lancei a consciência ao mar
Para me deixar sorrir
Mandei as nuvens passear
Obriguei as estrelas a dançar
Fiz ondas gigantes acalmar
Em terra firme, fui navegar.

Enterrei o espírito no chão
Para me deixar cair
Bem no fundo do querer
No escuro de te não ver
No aconchego de sofrer
Neste universo de paixão.

Até ao fim do tempo.



24 ABRIL 2010

23 abril 2010

BOLINA


À bolina, na neblina
Que o tempo faz avançar:
É tão bela, faz-te dela
Deixa o silêncio passar!
Quieta a noite serena
No nada veste-se luar:
Não há alma, por pequena
Que se não deixe encantar.
São palavras, são poetas
Presos na arte de tecer
Com fios de pontos e letras
Beleza para se ler.
Já à vista, mar aberto
Deixo o sorriso embalar
E salpicar o deserto
De estrelas a versejar.
Terra firme, eis-me aqui
Mas insisto em prolongar
Esta viagem em ti:
Até o tempo acabar!


23 Abril 2010

22 abril 2010

ESTÁS EM MIM


A pele foi virada,
Posta pelo avesso,
Desinfectada.
E tu estás em mim.
A alma foi lavada,
Foi molhada e esfregada,
Higienizada.
E tu estás em mim.
A memória foi apagada,
Foi rasgada, foi queimada,
Violentada.
E tu estás em mim.
Tatuado no meu sangue,
À prova da barrela da vida.
E nem a morte esconde
Esta verdade escondida:
Tu estás em mim!



23 Abril 2010

21 abril 2010

LÁGRIMA



Pára esta lágrima
Que me afoga
Larga a vida depressa
E beija-me!
Solta as amarras
Liberta as velas
Faz de cascas de noz
Poderosas caravelas
Em busca de ouro
Em busca do meu choro
Rasga este mar ímpio
Apaga a marca do tempo!
E esta lágrima
- Que me afoga -
Anda
Depressa
Bebê-la…

21 Abril 2010

RESPIRA-ME


O ar escasseia
A vida vem cheia
RESPIRA-ME!
A luz apaga-se
Como se morresse
RESPIRA-ME!
A sombra move-se
Como se vivesse
RESPIRA-ME!
A água estagna
Na planura do nada
RESPIRA-ME
A terra resseca
Porque ama e peca
RESPIRA-ME!
O céu encolhe
Porque não escolhe
RESPIRA-ME…
... que sufoco...
... e só TU sabes respirar EM MIM ...

21 Abril 2010

19 abril 2010

PRIMAVERA QUE NÃO É


Eis-me de pé
Nesta Primavera que não é
Segurando a andorinha
Que por morrer não a acabou
Que morrendo
Não a deixa começar
Eis-me de pé
A chuva em lágrimas caindo
Sobre a tristeza entranhada
Que não pode ser lavada
Que morrendo
Não a deixa apagar.
Eis-me de pé.
Fintando, do Sol, o brilho
Que me ofusca em profundidade
Mesmo banhando-me a superfície
Que me afogo
Em SAUDADE.



20 abril 2010

inocência


procuro
te
sempre
dia e noite
dentro e fora de mim
em tudo o que é belo
em tudo o que é alegre
em tudo o que é triste
busco
te
para sempre
no reflexo
das lágrimas choradas
no mundo a cada segundo
dos olhares fugidios
das almas vazias
quero
te
só no sorriso
largado no rosto feliz
da criança que -inocente-
ainda acredite na esperança…



19 abril 2010

18 abril 2010

DESTINO

Conheces-me os CAMINHOS.

Os teus.

Que os outros são cicatrizes de passado.

Conheces-me os ABISMOS.

Os meus.

Que os teus são mistério, são SEGREDO.

Conheces-me as VEREDAS.

Escondidas.

Que não as quero por aí, oferecidas.

Conheces-me as ESTRADAS.

Batidas.

Moídas de vida e de vidas.

Conheces-me o LEITO.

Imperfeito.

Onde o sonho é feito e desfeito.

Conheces-me a LINHA.

Na superfície.

Que o vento cria quando a desalinha.

Fazes-te ETERNO.

Em mim.

Quando me entrego ao DESTINO.



18 abril 2010

ONDA


Onde é que a onda nasce no mar?
Onde cresce por debaixo do olhar,
Onde se agiganta sem ninguém notar?

Explode em estrelas de espuma,
Em sorrisos brancos de alegria,
Em salpicos frescos de bruma!

Onde é que a onda se oferece à praia?
Onde galga os leitos em euforia,
Onde se entrega inteira e ama a areia?

Espreguiça-se em espelhos salpicados,
Em reflexos que ofuscam, emprestados
Ao Sol e à Lua – que os sabem roubados…

Onde é que a onda decide quebrar?
Onde se faz lago e se deixa abraçar
Antes de a maré a fazer regressar?

Onde, Onda?

18 Abril 2010

16 abril 2010

ENSURDECEDOR

Estás a ouvir?
Este silêncio?
 E N S U R D E C E D O R
 Cala-te Silêncio! Cala-te em mim….
Estás a ouvir?
O ronronar dos sons que não alcanço
As melodias que se perdem na orla dos dias
Sonoras, as gargalhadas que não escuto.
Brutais, as fanfarras que animam os demais?
Estás a ouvir?
Cala-te em mim! Cala-te silêncio…

ENSURDECE a DOR

Este silêncio…

ESTÁS A OUVIR?



16 Abril 2010

15 abril 2010

feliz EM TI!

Ontem estiveste aqui. No meu leito, desfeito em mim, no meu peito.
Deixaste-me a mão em concha, cálice eterno de amor.
Gostas de mim? Ainda gostas de mim?
Ontem foste açúcar líquido, caramelo quente, pleno e doce na minha boca.
Deixaste-me beijos em caixa, bombons de gula desmedida.
Ainda gostas de mim? Gostas de mim?
Ontem floriste em todas as árvores dos jardins, explosão de cor e aromas.
Deixaste-me pólen na pele e cheiro de paixão na alma
Gostas de mim? Ainda gostas de mim?
Ontem deixaste-te líquido em mim, rasto molhado de rio na corrente que me leva.
Deixaste-me caminhos, para além dos criados pela natureza.
Ainda gostas de mim? Gostas de mim?

Ontem. Fui feliz. EM TI!


Sabes que sim. Que no teu leito há um lago tão grande que se vê do céu. Para assim ser eterno e ficar.
Sabes que sim. Que na tua boca há um lago tão doce que se cola na pele. Para ser reflexo de amor em cada olhar.
Sabes que sim. Que em todos os jardins há um lago tão colorido como um desenho. Para assim ser lágrima de entrar em nós para nos inundar.
Sabes que sim. Que em ti, linda linda, há um lago que brilha no sorriso das tuas mãos. Para assim ser pele que se dá de tanto ser lago e amar.

Amanhã. Quero ser feliz. EM TI!


DIZ-ME


Diz-me do AMAR
Do gesto pleno de DAR
Da fúria de querer ESTAR
Num colo quente e FICAR

Diz-me do QUERER
Do desejo absurdo de TER
Da necessidade de ESQUECER
O tempo que passa sem te VER

Diz-me do SENTIR
Da alma livre a FLORIR
Da tristeza finda, a FUGIR
Dos olhos fechados, a SORRIR

Diz-me da DOR.
De saber em mim o PAVOR
De ocultar fundo o TEMOR
De te perder, MEU AMOR!



15 ABRIL 2020

13 abril 2010

NOITE


A noite apaga-a...
Vai-se-lhe a luz,
A chama que brilha e seduz!
Fica nua em si, de si, para si.
Liberta dos elos, nos novelos
Pelos ermos dos pesadelos
Pelo beiral das janelas
Na vertigem de se ver.
Cair

A noite apaga-a. .
Vai-se-lhe a luz.
A voz que canta e encanta.
Fica só na solidão.
Busca-se no perpétuo perdão
Pelos crimes adiados
Pelos pecados guardados
Na gaveta do esquecer.
Morrer

A noite apaga-a.
Vai-se-lhe a luz.
O olhar que rasga e inquieta.
Deixa-se cega de ilusão
Cai a pique na razão
Enredada em dúvida - porquês?
Fere-lhe a vista a visão:
Que fazer para se querer?
Perder

LÍQUIDA

Abro os braços e caio LÍQUIDA no chão.
Em gotas, em pingos, em LÁGRIMAS.
De MÃOS dadas, numa estranha união
Formam OCEANOS de águas esquecidas.
Abro os OLHOS e evaporo de mim
Em MARESIAS e em nuvens de vapor
Chego a ti – chego a esse CÉU sem fim
Para me despenhar em bátegas de AMOR.
Abro a ALMA e estendo-me só reflexo
Do SOL quente que me aquece, acaricia
No seu colo, nesse infinito ABRAÇO
Em que me ofereço – LÍQUIDA – à alegria.
LAGO em mim, de superfície plana
De mil lágrimas NASCENTE e foz
Guardo oculto um FOGO – uma chama:
Um arder de um EU e TU num NÓS!

13 Abril 2010

12 abril 2010

NOVELO


No desvelo, em novelo

Reza-me a alma ao sonho.

Em novelo – que te velo

Grita-me o sonho à esperança.

Toda fúria e atropelo,

Inundada de carinho

Quero vê-lo, quero tê-lo:

Esse sorriso de criança!

E todo em mim, fazê-lo

Paz, amor e aconchego.

Quero leito, quero colo

Mais que ter – quero ser

Que os meus olhos, em apelo

Existem só para te ver!

12 ABRIL 2010

11 abril 2010

FOGE-LHE O OLHAR


Foge-lhe o OLHAR...

Na VIDA, na RUA, na LUA

Na NOITE que faz tão sua

Nos RIOS em que desagua

Nas ÁGUAS em que flutua.

Foge-lhe o OLHAR…

Por aí , em SI, sem FIM

No DIA que quer assim

Perfumado de JASMIM

Todo pleno só de MIM!

Foge-lhe o OLHAR…

Sem querer, por saber

Nesta coisa do querer,

Na loucura de me ter,

Até se poder perder

Num OLHAR fugido

Num OLHAR perdido

Num OLHAR ferido.

Num OLHAR oferecido…



Abril 2010

09 abril 2010

CORRENTE



Mergulho nessa corrente
Que ruge e chora e grita!
Nesse teu sangue quente
Que em desejo se agita.
Percorro-te nesse interior
Que te sinto em agonia
Navego à bolina em amor
Terra à vista, de alegria.
Imersa de ti, respiras-me.
Flutuo livre nesse leito…
Plena em ti, inspiras-me
Abandonada no teu peito
Nesse abraço, laço atado,
Nesse beijo, tão sem fim
Nesse nó – tão enredado
Nesse poder amar assim!

09 ABRIL 2010