24 fevereiro 2011

AMOR


Foram-se as letras. E as palavras.

E mandas-me amar-te por extenso.

Já não há espaço na folha de papel.

E mandas-me desenhar o meu amor.

Não tem frases, não tem forma:

Fecha os olhos e recorda!

Já o soubeste de cor.














12 fevereiro 2011

GUARDO-TE

Não me olhes assim, com o adeus sob as pálpebras, ameaçando fugir na primeira lágrima que derramares. Não me beijes com a boca seca das palavras que se te acumulam sob a língua ensopadas de saliva. Não faças do abraço um torniquete da alma que espreita cada poro da tua pele nessa ansiedade de sair e ser.


Oferece-mo. Sim, oferece-me o «não». Guardo-to.


Despe-te. Das roupas, da rotina, de nós e dos outros. Faz-te ao avesso da vida assim: nú. Tão despido quanto conseguires. Serás tu e o que o mundo te quiser oferecer. Deixa que te puxem a ponta de cada rótulo e que o arranquem num puxão rápido. Passa pelas portas e pelas frestas estreitas ainda que as ombreiras e as arestas te arranquem pele. Lança-te do alto de ti: se quebrares ossos é porque já ganhaste altitude.


Guardei-o. O «não». Devolvo-to, embora saiba de antemão que já não te serve. Sobra-te, agora que o ego te emagreceu mas tu te agigantaste. Anda. Vamos largá-lo por aí e procurar pontos de exclamação na vida!

06 fevereiro 2011

MÁCULA


Abro a porta sem nada temer
Abro-a, como sempre, a tremer
De vontade e desejo de criança
Ingénua, ainda sabe da esperança
Abro a porta louca de te ver
Do lado de lá, ao longe, no querer
E caio na dor que me trespassa
Que me rasga na ponta da tua lança
Manchada do sangue a sombra do dia
Mácula pegajosa no chão onde queria
Ser tua para sempre e beijar-te outra vez
Logo a seguir ao amor que se fez