Tens a boca entreaberta, súplica de beijos. O olhar lançado ao ar quando pestanejas. O cabelo solto desobedece-te, revolto.
O teu corpo move-se e a vida acontece-te com a naturalidade de todos os dias. Os problemas acumulam-se e forçam espaço dentro de ti. A pele cede, o corpo desiste aos poucos, resignado. Dás os passos que tens que dar e nem sequer podes evitar os que não queres. Segues em frente porque não há cruzamentos nem escolhas a fazer e a realidade paralela esconde-se-te.
Há sorriso e esperança e ternura e amor. Mas não são teus. Os outros nem se apercebem que tu não te apercebes do que não tens. És de toda a gente. Deverias ser, pelo menos. A tua miséria devia ser de todos porque a solidão dividida é uma contradição.
O teu corpo move-se e espera-se que estejas viva. Se te baterem com os nós dos dedos – se te batessem com os nós dos dedos – devolverias um som metálico, oco. Forjada no vazio, morres vazia. E tarda-te o fim, que o tempo entre o antes e o depois é demais para viver a dor.
Olho-te do fundo da tua sombra ao meio-dia. Estou aos teus pés e não me vês e ainda assim não me pisas. Sabes caminhar nos silêncios. Daqui, de onde estou, vejo-te a boca entreaberta, suplicando o beijo que te não dei. O olhar triste que deixei que as brisas levassem. E quase sinto os teus cabelos no meu rosto, revoltados.
Tarda-me o fim, que o tempo entre o antes e depois é demais para viver sem ti.
G... palavras leva-as a net!
...porque as palavras tropeçam em sentimentos e se espalham, prontas a ser levadas pelos caminhos ao sabor das brisas...
18 abril 2012
20 fevereiro 2012
Solta-me os passos Não os guardes numa gaveta. Não lhes calces meias quentes nas noites de inverno. Não feches as portas nem escondas as chaves. Não peças nem supliques e seca as lágrimas ao nascerem. Desata os nós com que os atas enquanto durmo. E não escondas os sapatos.
Deixa-os ir.
E deixa-me ficar aqui ao pé de ti.
Deixa-os ir.
E deixa-me ficar aqui ao pé de ti.
15 janeiro 2012
NO CONTRÁRIO
E no contrário
Pode-se sonhar?
Na fina película
Mesmo antes
De o gelo derreter,
Na fracção de segundo
Imediatamente anterior
Ao liquefazer dos sonhos,
Na labareda tímida
Que ainda não queima
Antes do fogaréu a arder:
Pode-se ser ao contrário
Num sonho
E voltar pé ante pé
Sem que ninguém
Dê por nada?
29 dezembro 2011
PRIMAVERA
No fim de tudo, estou eu.
Pousada num ramo de amendoeira.
Longe das sombras
Exposta ao Sol
Seco.
Não caio com as folhas
Vejo a melancolia pousar
Esmoreço.
Lavo-me na chuva fria
Resisto aos vendavais
Fico.
Pousada num ramo de amendoeira
Eis-me, no fim de tudo,
À espera que floresças,
Primavera.
10 dezembro 2011
ASSIM
- Sim.
Sim, sim, sim, sim, sim.
Ribomba em eco dentro de mim
Assim.
Som metálico
Rosto pálido
Tanto amor
Para esta dor
Assim.
Sonoro em grito dentro de mim
Sim, sim, sim, sim, sim.
- Sim.
Respondes.
É o fim?
06 dezembro 2011
BORBOLETAS
Depressa, vai buscar as redes de caçar borboletas!
Muitas. Tantas serão de menos: traz mais ainda.
Rápido! Corre e trá-las. Senão…
Os pássaros voam e caçam no ar
As brisas sopram e na ira fazem-se ventos
O chão é frio e sujo e não me quero lá.
Lança-as ao ar, as redes,
Em movimentos suaves e circulares
E apanha-me na queda:
Porque implodi e estou desfeita
Em cinzas que flutuam num voo breve.
Que um pássaro me não confunda,
Que um vendaval me não faça perder,
Que o chão não me acolha para que me pisem.
Se não me recolheres toda,
Que me levem as borboletas.
6 Dezembro de 2011
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