- Não, Sr. Doutor, nem me queixo de todo. Tratam-me bem e... bem, pelo menos deixo de fazer aquelas coisas... sabe? Aquelas... pois.
- Bem, pelo que me conta, acho que a melhor solução é a hipnose. Uma vez que não se recorda da origem, do motivo do... do fenómeno, quer dizer... pois. Vamos lá então! Olhe para o meu dedo... está com muito, muito sono, isso... adormeceu, o tempo recuou, está a ver qualquer coisa... diga, conte-me o que está a ver...
- O joelho! Ordinária, cabra! A mostrar descaradamente as pernas. E ele a olhar... Pára de olhar, verme, porco, tarado! Ela cruzou as pernas. Cuecas pretas... rendadas, de prostituta! Tudo à vista. Provocante, vagabunda! E ele a olhar, só falta babar... Porque é que ele não olha para mim? Hoje até tirei o buço. E rapei os pêlos das pernas. Mas as dela... ai as pernas dela! Como são longas, torneadas, esguias! Que inveja!
Música, estou a ouvir música. Vamos dançar. estamos a dançar. Ela levantou-se. Tem um daqueles rabos em forma de coração. Este ordinário ainda apanha um torcicolo de tanto se virar para olhar para ela. Olha p'ra mim, Almerindo, filho, olha p'ra mim, que hoje fui à cabeleireira e até pus rímel! E pára de me pisar, bruto!
Não traz soutien, a descaradona. O decote mostra tudo quando se baixa. Valha-me Nossa Senhora! Indecente, sem soutien e com um decote daqueles! Chega-lhe ao umbigo! Parece uma manequim ao andar. Rebola tudo, chacoalha por todos os lados. O cabelo loiro, solto, encaracolado e longo, acompanha os sacolejos narcisistas. Vaidosa! Oferecida! Deve pesar no máximo cinquenta quilos. Cinquenta quilos, onde já se viu?!! Isso é o que eu preciso perder para ficar como ela... Ai que inveja, que ciúmes! Tem um rosto lindo, lindo! Olhos azuis profundos, boca carnuda, carmim, dentes de anúncio a pasta de dentes... Vira-te p'ra mim, Almerindo! Pára de olhar para ela. A besta também não desgruda, não pára de olhar para o meu homem. Olha para outro qualquer, desvairada, deixa o meu em paz!
Oops! Onde é que ela vai? Melhor, para onde é que ela vem? Ah! Se eu pudesse, metia-lhe uma venda nos olhos, para ele não olhar tanto! Que ciúmes, meu Deus, que raiva, raiva, raiva!!! Se ele olhar para ela mais uma vez que seja, quando chegar a casa, furo-lhe os olhos com a agulha do tricôt. Os dois, um por um! Almerindo, filho, pára de me pisar, vê se te lembras que estás a dançar, porco esfomeado! E pára de olhar para ela!!! Ah! Piscou-lhe o olho, a marafona! Mas!... Mas!... Ah! Não, não!!! Por favor, não me deixes aqui sozinha, Almerindo, filho! Anda cá! Deixa essa ordinária! Larga-a Almerindo! Volta, estás perdoado, filho! Volta! Nunca mais, nunca mais te obrigo a limpar a retrete! Prometo, mas não me deixes, não!!! Ah!! Oh!! Está-me a dar uma coisa, valha-me Santa Engrácia! Ohhhh! Ah! Aiiiiiii...
- Pronto, calma, não se passa nada, vai acordar calmamente, isso! Passou... melhorou? Água? Aqui tem.
- Ai, Sr. Doutor, descobriu? Descobriu porque é que não consigo ver uma loira de olhos azuis sem a esganar, massacrar, triturar? E porque é que não posso ver um homem sem lhe espetar as agulhas de tricôt nos olhos? Eu juro que me tento controlar! De todas as vezes que aconteceu... eu tentei, tentei, sim, mas não resisti e... percebe?
- Bem, não foi nada grave, sabe... Não! Não se aproxime! E não vale a pena tentar tirar o colete de forças! Parece que, afinal, o seu problema são só uns ciúmes mal digeridos...
- E qual a solução, Dr.? Tenho cura?
- Oh, sim, claro: colete de forças 24 horas por dia, grades reforçadas na cela e, olhe, paciência, muita paciência... Vou enviar umas notas ao chefe da cadeia:
''Diagnóstico: ciumite aguda, com síndroma pós-traumático e violento, desiquilíbrio permanente e fundamental. Serial killer incurável e altamente perigosa.
Recomendações: manter afastada de homens. Jamais partilhar cela com loiras!!! Inofensiva com morenas.''
AMIGA: 1/3 de promessa cumprida. Mais ou menos, que este é do fundinho do baú..... Pronto: 1/300 de promessa cumprida! Beijo português, gigante para chegar a Angola! Love you, miss you!
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