Às vezes a lua, nos seus dias incompletos, procurava companhia.
Um dia deixou-se tombar, pensando que ninguém saberia. Caiu-me nos braços – que trago sempre abertos – e rolámos numa amálgama pelo chão. Depois de nos apartarmos, brilhávamos. Eu, de luz de lua. Ela de sorrisos. Nem falámos, só nos ficámos a olhar, enquanto regressava, içando-se a pulso para o seu baloiço de solidão, suspenso do princípio do Céu.
Com o tempo, aperfeiçoou a queda e eu cuidei para que os braços a recebessem com doçura. Já lhe sabia os dias – sempre aqueles em que era menor. Muitas vezes nada dizia. Com ar sério e brilho mortiço, procurava-me no bolso um sorriso, deixava-me uma promessa de luz e logo se ia. Cuidando que ninguém notaria.
Um dia igual - feito então diferente - chegou de mansinho para me surpreender, que com o tempo se vinha tornando menos tímida. Eu estava contigo, na sala. Deixou-se ficar, sem ninguém a ver. Ouviu as palavras que desenrolavas numa espécie de lamento, no meu colo de consolo: que a lua era tua guia, alto no firmamento. Que te sentias perdido nos dias compridos em que olhavas o céu e não a vias. Que esses dias eram agora quase todas as noites.
Às vezes a lua, nos seus dias incompletos, procura companhia.
E se me sinto só, sei onde vos encontrar.
Que às vezes vai à tua casa, em vez de vir à minha.
4 comentários:
Um mundo de partilha com a lua como pano de fundo...
Muito bem!
AC: obrigada!
E falas da Lua com tanto brilho que confirmas a minha ideia que ela é, de facto, o sol da noite. E que bom deve ser ter um colo de consolo para lamentar a falta dessa luz...
Gosto do que escreves e de como escreves. Parabens.
Beijinhos
Ricardo
RICARDO: a lua... mágica, não é? Luz do escuro, luz q.b.
É bom o colo.
E é bom saber que gostas do que escrevo e de como escrevo.
MUUUUITO OBRIGADA!
Que sou muito aprendiz de principiante e fico muito feliz!
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