01 setembro 2010

MADRUGADA


A madrugada chegou mais cedo
P’ra me contar muito em segredo
Que o Mar já não sabe cantar
E as ondas o não querem tocar.
Bateu-me à porta, esbaforida
Toda rasgada, noite em ferida
Temendo o Sol e a queimadura
Da sua raiva vestida amargura.

Madrugada de paixão
Guardas-me o perdão
Que tanto nego, noite fora
Como se ontem fosse agora
Madrugada de ilusão
Esconde-me na escuridão
Dos meus olhos, que me fitam
Dos meus medos, que me gritam
Arrasto gasto no chão
Este resto de perdão
Que piso e deixo ficar
A noite toda a chorar

A madrugada não quis entrar
Que tinha que ir, sem demorar
Deixou em lágrimas o seu recado
De dor e saudade de um passado
Em que rios corriam nos leitos
Rasgados bem fundo nos peitos
Forrados de paz, de ternura
Rocha de amor, pedra mais dura

Madrugada de tormento
Guardas-me o sofrimento
Que tanto nego, noite fora
Como se ontem fosse agora
Madrugada de lamento
Esconde-me por um momento
Dos meus olhos, que me fitam
Dos meus medos, que me gritam
Arrasto gasto no chão
Este resto de perdão
Que piso e deixo ficar
A noite toda a chorar

A madrugada, deixei-a ir
Que tinha mesmo que partir
Roubou-me as mágoas da vida
Levou-as em viagem só de ida
De recibo deixou o sorriso
No perdão que tanto preciso
E um recado vestido de calma
Escrito sem tinta, na minha alma

Madrugada de esperança
Guardas-me ainda criança
No meu escuro, noite fora
Como se ontem fosse agora
Madrugada carregada
Levas-me a mágoa, pesada
Dos meus olhos, que te fitam
Dos meus medos, que te gritam
Arrasto grata cada dia
Este resto de magia
Que sinto e deixo ficar
A noite toda a cantar





12 comentários:

Pedro Branco disse...

Apenas um beijo me deixou à chegada
Sem que eu quisesse acordar
Foi assim que em verso a madrugada
Me fez de novo chorar
O teu nome, eterna pele sempre presente
Tudo deseja, perdoa e sente
Uns dias, a noite que se demora
Outros, quem sabe, um Sol pela alma fora

Sei-te na saudade que o tempo não mata
No perfume que o vento não desfaz
E sempre que a madrugada me prende e desata
Lá sou eu vagabundo da guerra e da paz
Por isso poeta é talvez a minha canção
No calor e na dor da inquietação
Que vai e vem sem deixar pegadas
A não ser no acordar das madrugadas...


"Madrugar" é sempre uma respiração. Hoje ousei respirar da tua. Beijo.

Maria disse...

Outra a que só falta a música...
:)

Beijo.

A.S. disse...

Quando a noite se torna mais escura
como tela sombria a negro impressa
venha o sonho que vier tem mais altura
a sombra em que ás vezes se tropeça...


Ficarei com a minha luz... afastando as sombras, para que possas sonhar!!!

Bj`ss
AL

Pedro Branco disse...

"É tempo de ser agora", reclamava-se música? Pois já fiz e um dia mostro-ta para ver se gostas. Esta... quem sabe...

M(im) disse...

Pedro!
A sério?!...
Fico feliz só de saber que a fizeste... Uma honra!
Obrigada.
Agora... É TEMPO DE MA MOSTRARES!
Que fiquei muito curiosa também!
Esta...
Olha, esta fica de DESAFIO! ATREVES-TE?....

Obrigada pela surpresa. Fica um beijinho amigo e enternecido.

M(im) disse...

MARIA: o teu comentário foi... premonitório!
Obrigada!
Beijinhos

M(im) disse...

PS: Pedro... para além da música (que curiosidade agora!!!!), o poema... lindo.
Não to agradeci.
Agradeço agora.
Beijinho

M(im) disse...

AS: obrigada. Obrigada pela presença e pela tua luz nas minhas madrugadas.
Um grande beijinho

Nilson Barcelli disse...

A madrugada agradece este teu excelente poema.
A madrugada não fala?
Fala sim senhor, mas apenas com os poetas grandes como tu.
Beijos, querida amiga.

Filoxera disse...

Que saudades de ler o que escreves.
Lindo!
Voltarei quando conseguir saborear mais demoradamente, pois vejo que há aqui mais escrita poética a "escapar-me".
Beijos.

M(im) disse...

NILSON: obrigada pelas palavras, sempre amigas, pelo incentivo, sempre saboroso. Mas... poeta?!!! És tu, amigo.
Eu tenho um vício das palavras e MUITO a aprender.
Beijinhos

M(im) disse...

Filoxera: obrigada!
Um grande beijinho que vai cheio de amiração - pelo que leio (menos que gostaria, malvado tempo que nunca chega!) no teu blog.