Andas oculta nas sombras dos acontecimentos marcantes, humilde na dádiva, segura na presença. Afastas-te à minha passagem, libertando espaço para o gozo pleno das alegrias e para a ocultação inicial dos erros e tristezas. E observas com tudo menos com o olhar…
Mostras-me do sonho as fraquezas, da tristeza as transitoriedades, do amor as verdades. E sonhas, e choras e amas. Ainda assim…. Estás aí….
Imagino-te ampla, espaçosa nesse interior tão oferecido, de outra forma como acomodarias tão confortavelmente toda a minha complexidade, todos os meus fantasmas, todos os meus pontos de interrogação hiperactivos, os meus pontos de exclamação inflexíveis, os meus pontos finais inexistentes e as minhas intermináveis reticências?
Zango-me com a minha incapacidade de viver sem ti, com o peso que não denuncias no sorriso com que me acolhes nas madrugadas longas de incerteza, com o egoísmo que não ultrapasso e me faz sentir sempre que te dou de menos enquanto te recebo mais do que mereço.
Apraz-me consolar-te. Não porque te deseje as dores – sim, sei que te fazem crescer, sei que as sabes viver – mas porque nelas te sinto gente, te intuo as fragilidades e com a percepção da tua humanidade vivo melhor com o pior de mim.
Dás-te por entre as sombras sem reservas, mas com o pudor que o respeito de mim impõe. Observas para além do que quero mostrar, sentindo-me. Acorres ao chamamento quando as alegrias querem ser partilhadas. Irrompes sem convite quando as magoas são lâminas e me retalham a alma. Acompanhas-me na convalescença, partes enquanto durmo tranquilamente.
E regressas ao teu esconderijo em mim, ocupando sabiamente os vazios da minha vida, por entre os adeus das partidas e a euforia com os que de novo chegam. Tranquila, sempre, porque só tu, AMIGA, sabes estar nesse cantinho escondido, que é tanto, tanto de mim!
Para a «mana caçula»
Outubro 2009
Nenhum comentário:
Postar um comentário