12 fevereiro 2011

GUARDO-TE

Não me olhes assim, com o adeus sob as pálpebras, ameaçando fugir na primeira lágrima que derramares. Não me beijes com a boca seca das palavras que se te acumulam sob a língua ensopadas de saliva. Não faças do abraço um torniquete da alma que espreita cada poro da tua pele nessa ansiedade de sair e ser.


Oferece-mo. Sim, oferece-me o «não». Guardo-to.


Despe-te. Das roupas, da rotina, de nós e dos outros. Faz-te ao avesso da vida assim: nú. Tão despido quanto conseguires. Serás tu e o que o mundo te quiser oferecer. Deixa que te puxem a ponta de cada rótulo e que o arranquem num puxão rápido. Passa pelas portas e pelas frestas estreitas ainda que as ombreiras e as arestas te arranquem pele. Lança-te do alto de ti: se quebrares ossos é porque já ganhaste altitude.


Guardei-o. O «não». Devolvo-to, embora saiba de antemão que já não te serve. Sobra-te, agora que o ego te emagreceu mas tu te agigantaste. Anda. Vamos largá-lo por aí e procurar pontos de exclamação na vida!

4 comentários:

Anônimo disse...

Conseils tres interessants. A quand la suite?

Nilson Barcelli disse...

"Lança-te do alto de ti: se quebrares ossos é porque já ganhaste altitude."
Todo o texto é excelente, mas esta frase é genial.
Parabéns, excedes-te a cada texto.
Querida amiga, bom resto de Domingo e boa semana.
Beijos.

Filoxera disse...

Hoje,leio este post de uma forma ainda mais sentida.
Porque cada escrito é intrepretado por cada leitor de acordo com a sua vivência e emoção.
E hoje, a minha vida são muitos pontos...
... de interrogação.
Beijos.

Mar Arável disse...

Excelente texto

porque a vida
também pode ser escrita
sem pontuação