27 março 2011

NO FUNDO DA RUA


No fundo da rua deixei-me
Fiquei só eu, lá atrás
Todos continuaram
Seguiram, avançaram
Serenos e em paz
E no fundo da rua sentei-me
No chão escuro, frio
Todos marcharam
E foram, prosseguiram
Sem olhar o vazio
E eu sentada lembrei-me
Do tempo que já foi
Quando os olhos se abrem
E olham e percebem
Mesmo aquilo que dói
E eu sentada preparei-me
Para saudar a solidão
Os outros não ficam
E seguem, abdicam
Até de saber onde vão
No fundo da rua estou eu
Sentada no frio do chão
Seguindo um rumo só meu
Perdida no meio da multidão

23 março 2011

ATRÁS DE TI



Atrás de ti
Na porta que não vês
Há uma silhueta
Recortada da sombra
Amarrotada
Largada
Do resto dos teus passos.
Atrás de ti
Uma chuva de porquês
Cai numa gaveta
Oculta na penumbra
Encharcada
Esquecida
Do calor dos teus abraços
Não te vires,
Não olhes,
Não procures.
Ou então
Arrisca
Cruzar-te
Com o futuro.


20 março 2011

PRESENTE

















Hoje.

Este- mais que todos os outros -
Não devia existir.
Para que já pudesse ser ontem.
Porque a dor e a tristeza
Custam sempre menos amanhã…
De presente?
Queria um vazio
Entre o passado
E o futuro.

10 março 2011

PODIAS


Podias ser corpo.
O meu que fosse.
Para seres calor apertado quando te abraço e me desfaço na dormência do que não se sente.
Podias ser corpo.
Ter olhos para olhar o céu.
Para te poder contar muito em segredo que o princípio de todas as nuvens é uma lágrima que não quer voltar a ser derramada.
Podias ser corpo.
Ter pele para sentir.
Para te encharcares do meu suor, brotando-te de cada poro, enquanto me deixas o teu cheiro no ar quando te afastas.
Podias ser.
Tudo o que quisesses.
Se ao menos existisses.