Tens a boca entreaberta, súplica de beijos. O olhar lançado ao ar quando pestanejas. O cabelo solto desobedece-te, revolto.
O teu corpo move-se e a vida acontece-te com a naturalidade de todos os dias. Os problemas acumulam-se e forçam espaço dentro de ti. A pele cede, o corpo desiste aos poucos, resignado. Dás os passos que tens que dar e nem sequer podes evitar os que não queres. Segues em frente porque não há cruzamentos nem escolhas a fazer e a realidade paralela esconde-se-te.
Há sorriso e esperança e ternura e amor. Mas não são teus. Os outros nem se apercebem que tu não te apercebes do que não tens. És de toda a gente. Deverias ser, pelo menos. A tua miséria devia ser de todos porque a solidão dividida é uma contradição.
O teu corpo move-se e espera-se que estejas viva. Se te baterem com os nós dos dedos – se te batessem com os nós dos dedos – devolverias um som metálico, oco. Forjada no vazio, morres vazia. E tarda-te o fim, que o tempo entre o antes e o depois é demais para viver a dor.
Olho-te do fundo da tua sombra ao meio-dia. Estou aos teus pés e não me vês e ainda assim não me pisas. Sabes caminhar nos silêncios. Daqui, de onde estou, vejo-te a boca entreaberta, suplicando o beijo que te não dei. O olhar triste que deixei que as brisas levassem. E quase sinto os teus cabelos no meu rosto, revoltados.
Tarda-me o fim, que o tempo entre o antes e depois é demais para viver sem ti.
5 comentários:
Poema entristecido
mas profundo
e belo
Tanta poesia, neste amor triste,
tanto vazio numa dor que persiste.
Tanta força que ainda subsiste
Num amor que foi esperança e já não existe...
Um abraço.
Adorei o post.
Beijo
Tenho saudades dos teus posts, dos teus comentários, das tuas fotos...
Beijo, querida amiga G.
lindo, sem palavras...
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