15 julho 2010

SILÊNCIO

Há o silêncio. E há este silêncio. A este, oiço-o melhor. É mais límpido e o eco aninha-se-lhe confortavelmente no colo.

Há o silêncio. E há este silêncio. Este tolhe-me até as palavras que ainda não nasceram dentro de mim. Impõe o vazio tão completamente que me deixo revistar. Permito que me leve todo o conteúdo passível de emitir um ruído que seja. Fica oco o espaço da música, da gargalhada, do sussurro e da palavra irada. Se me sacudirem, ouvir-se-á o som do que restou chocando contra a saudade do que se foi.

Não me posso mexer. Porque há o silêncio e este silêncio e este quer-me silenciosa. Se andar o que resta de mim choca. E chocado ficaria o silêncio que me quer muda. Com o tinir das pedras que me deixou ficar.

Não posso chorar. Porque as lágrimas solidificam neste frio glaciar de silêncio de almas. E se alguma – feita cristal de gelo de forma pingente – toca este chão de pedra fria que me petrifica as pernas… vai-se o silêncio num «plim» e – ai de mim! Que o silêncio não quer assim.

Não posso sorrir. Que para isso tenho que inspirar e para isso tenho que respirar e para isso… falta-me o ar! Que a atmosfera é gelo seco pulverizado e mal espalhado. Que me queima e seca a narinas e chega já morte aos pulmões desesperados.

Resta-me o olhar para te ver nesse sorriso petrificado sob gelo pisado e amalgamado no desespero. Por isso espero.

Há-de haver um grito. Uma corda vocal que ainda saberás encontrar, que o amor saberá aquecer, que saberás dissimular. Há-de haver um acorde, um resto de canção que afinal consegues lembrar. Há-de haver um olhar devolvido num dia perdido. Para derreter o gelo prisioneiro que te faz dele o Inverno inteiro, para estilhaçar a geada e a água gelada. E os rios… correndo de novo, libertarão o seu rugir quando as pedras não os deixarem ir.

Em silêncio e meio vazia, fico e espero.

Aguardo que – desviante - um braço de água me arrebate no seu caminho. E que, percebendo-me fazia, me invada sem cerimónia e me encha mesmo até ao cimo. Que me aceite assim oferecida e me faça lago num abraço resignado, se não encontrar caminho, se não achar saída.

Se vieres cantar à minha beira… não estranhes o meu silêncio: busca o som no meu reflexo.

2 comentários:

Maria disse...

Muitas dúvidas para o meu gosto... :)
Não te entregues assim ao silêncio, dessa forma total e absoluta. Não sabes se uma corda vocal ainda resiste. O melhor é mesmo acordar e reagir...

Um beijo.

M(im) disse...

MARIA:
Felizmente este silêncio não é o meu. Nem a dor. A dúvida é só uma: porque é que há quem tenha que sofrer assim tanto?
Instalada na minha felicidade (impermanente, eu sei) não consigo abstrair-me. Da infelicidade alheia.
Obrigada.
Beijinho