08 fevereiro 2010

REGAÇO

Abre-me o teu regaço.
Nele as lágrimas são só água, com detergente para as mágoas.
Nele, depois de secas, fazem-se sorrisos tímidos por fora e gargalhadas por dentro.
Nele acolhes as nódoas esfregadas que as minhas mãos em sangue não conseguiram eliminar.
Oferece-me o teu colo.
É quente e derrete-me os diques de cera, fura-os e oferece caminhos aos sentimentos.
É quente e o meu sangue circula de novo, visita capilares esquecidos, e esqueço que não posso chorar.
É quente e doce, amplifica as cores, os sons, as alegrias, sobrepõe-nas à tristeza cobarde que não se mostra, que jamais me abandona.
Dá-me a tua mão.
É firme e suave nas minhas, estão feridas, sem cicatrizes porque não saram jamais.
É firme mas terna quando me conduz à beira do meu precipício e me empurra mais aquele milímetro que me impedia de ver para além da ilusão de abismo.
É firme quando me guia, toque ausente, sempre presente.
Guarda-me no teu segredo.
Guarda-me as nódoas, lava-as em lágrimas, sacode-as com mão firme e põe-nas a secar no teu Sol que tudo branqueia.
Guarda-me alguns sorrisos, às vezes fazem-me falta. Deixo-te os mais bonitos, cuidas bem deles. Usa-os, se precisares.
Guarda-me um caminho, uma nesga entreaberta, com um fio da tua luz em jeito de denúncia da tua existência num segredo imaginado. Não tocarei à campainha, não te apoquentes. Só me sentarei do lado de fora, de costas para os abismos, pernas de encontro ao peito, mão estendida - já com cicatrizes, quem sabe? Um dia qualquer, quando precisar de chorar sem saber. Se abrires a porta, não te pedirei nada de especial. Só o teu regaço….

2 comentários:

cristal disse...

Apetece aninhar neste regaço, tão quente, tão doce e tão terno!

Adorei este momento de colo, soube-me tão bem.

Beijinho grande a ti

Filó disse...

Um regaço,
Por vezes precisamos de um, para nele depositarmos nossas mágoas...é bom um colinho protector !

Um beijinho com carinho