12 janeiro 2010

DACHAU OLHANDO O CÉU






















Branco eterno. Ou uma folha
Sempre em branco, para escrever
Numa longa e negra linha
Uma história a não esquecer.

E um corpo magro, a desistir,
Ossos expondo uma derrota
De quem não pôde prosseguir.

Branco imóvel na direcção,
Erguido ao céu, posto ao alto,
Todo ele baço de devoção:
Pleno tão só de desalento.

E a pele em pregas, a descair
Vencida já pela gravidade,
A mesma que te impede de ir…

Branco anónimo, que ficaria
Por entre as brumas da multidão
Não fosse o acaso -naquele dia-
Cruzá-lo com lente de compaixão.

Mãos rendidas, não mais erguidas
Braços largados ao seu destino
Depois da morte não há feridas…

Branco perdido, no seu lugar
Naquela sala – noutra qualquer,
Ainda assim, me vens tocar
Para o meu olhar não te perder.

No teu momento, no teu render,
Feito do Mundo em fotografia,
Marcas cruel, com ferro a arder!

Branco de olhos, os teus cansados,
De ver sem enganar o terror:
Negros no centro, de dor pintados,
Imagem perpétua de puro horror.

E nesse branco, do teu olhar
Condensas, da história, a loucura
Que só os homens sabem criar.

Dezembro 2009

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