09 maio 2010

OLHAR O SORRISO

Hoje não me sorriste com o olhar. E eu, querendo ir, deixei-me ficar. Nesta janela de sardinheiras e reflexos de vidas recortadas. Como as Nuvens que trepam pelo Céu e se deixam ficar dependuradas ao contrário. De pernas para o ar. Cansadas dos passos, dos embaraços, dos infinitos abraços que lhes chegam em sussurros. Em segredo. Espreitam de olhos fechados, tentando intuir o Mundo. Que gira sempre no mesmo sentido sem rumo. Ao acaso, vagabundeando na mesma órbita. Oferecendo marés ao Mar, movimento aos Rios e reflexos aos Lagos. Brincando com o Sol. Que te persegue, que te quer iluminar, que se te quer em sorriso. No olhar. No fundo dos olhos com que me sentes e me sabes amar. No fundo do Abismo em que flutuo só para me deixar resgatar. Para atrair o Sol e tentar impedi-lo de regressar. Ao seu trono sobranceiro. Vulcão incandescente, lava líquida, lava-me na queda de Água fresca de lágrimas tuas, guardadas para os momentos perdidos. Para os dias sem pele, para as noites sem calor, para as horas de vapor de amor. Evaporo-me num labirinto de Saudade, preso em caminhos de verdade, lama que se me cola aos pés que não deixam pegadas nem rasto. Tropeço, caio em mim, e a lama mais não é afinal que pó de Passado embrulhado em bruma de Futuro. Deixo-me ficar, olhos fechados, numa tentativa de recordação. Do sorriso que deixas brincar quando me ofereces o teu olhar. Ergo-me e no chão fico em molde. Côncavo, deixo-te em oferenda o meu corpo, Completo só quando te fazes convexo em mim. Hoje não me sorriste com o olhar. E eu querendo sorrir fiquei a chorar.



08 Maio 2010

4 comentários:

OUTONO disse...

...olhar...um sentir... senti-lo, declamá-lo, que melhor conjugação...

Perfeito!

Nilson Barcelli disse...

Parabéns por este belíssimo texto. Muito bem escrito.
Beijo.

M(im) disse...

OUTONO:
Que dizer? Destas palavras generosas de quem trata a perfeição por tu?
Beijinhos

M(im) disse...

NILSON:
Obrigadaaaaaaaa!
Fico tão feliz!
Deixo-te estrelas em constelação. Para uma moite brilhante!